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terça-feira, 24 de novembro de 2009

PETRALHAS, TIREM SUA TRISTEZA DO CAMINHO QUE EU QUERO PASSAR COM O MEU HUMOR

Estive no Programa do Jô, e a entrevista foi ao ar ontem mesmo (acima, no Youtube, apenas os primeiros minutos). É estranho ver-se na televisão, claro, para quem, como eu, atua em outro meio. Mas os leitores do blog gostaram do resultado — e os que, de hábito, odeiam, já ficou claro, tiveram ainda mais motivos para secretar seu fel. É do jogo. E aí há uma coisa curiosa: deploram menos — embora o deplorem muito! — o que eu disse do que o meu humor. Queriam-me triste, infeliz, sorumbático, acometido de irremediável melancolia. Pois é…

Lamento por esses caras. Embora se julguem tão vitoriosos; embora façam questão de esfregar a tal popularidade de 80% de Lula na minha cara — como se isso fosse mudar a opinião que tenho sobre ele e sobre o governo —; embora vivam me chamando “derrotado”, são eles a usar o discurso furioso, são eles a usar as falas do ódio, são eles a usar os vocábulos da tristeza e todos os sentimentos da angústia. Eu não! Sempre estive preparado para Lula e, se preciso, enfrento coisa pior. Posso não torcer por isso. Mas tenho enorme apreço pela realidade. Lamento pelos petralhas se não lhes pareci humilhado, acanhado, triste… É que não sou como sonham. Ao contrário até: alguns leitores me acharam excessivamente agitado, me mexendo muito, não parando quieto no sofá. Não, não era nervosismo — nem estava nem pareci nervoso, acho eu. É que sou assim mesmo: desassossegado. Só paro quieto lendo ou escrevendo. Assistir a um filme ao meu lado pode ser um tanto aflitivo se eu não pegar no sono, coisa com a qual os cineastas freqüentemente colaboram… Mas assim é há 48 anos. E surge, então, caras e caros, uma questão realmente muito interessante.

Se eles são os “vitoriosos”, os que “estão com tudo”, os que triunfaram, por que não são um pouco mais tolerantes, por que não são um pouco menos enfezados, por que não são um pouco mais tranqüilos? Por que lastimam em mim — o “derrotado”, o que eles dizem estar “do lado de lá” — justamente o bom humor? PORQUE OS FASCISTAS NÃO SUPORTAM A ALEGRIA. E a alma dessa gente é fascista. Só isso.

Esses caras criminalizaram a crítica. Eu tenho um pouco de vergonha de ficar listando as críticas que fiz ao governo FHC porque fica parecendo que estou prestando satisfação a esses “VAGABUUUUNDOS” (é uma alusão ao piada de Jô Soares no programa). Mas lembro, por exemplo, para ficar num caso que foi definidor do resultado das eleições de 2002, que a revista de que eu era diretor de redação — Primeira Leitura — deu a primeira matéria de capa sobre a crise de energia que viria. Com seis meses de antecedência! Reportagem dura, implacável, sem rodeios. As mesmas críticas eram feitas no site de modo contundente, abusado até — com o humor que empreguei hoje para falar do governo Lula. E qual foi a reação negativa do governo FHC? Nenhuma! Do mesmo modo, os tucanos não satanizavam os críticos. O PT batia no governo dia sim, dia também. A minha revista fazia o mesmo. E, no entanto, não havia campanha organizada para desmoralizar este ou aquele, identificando-os com “o jogo da oposição”.

Sabem por quê? Porque há uma grande diferença entre democratas, que realmente toleram a crítica, e os fascistóides, que não suportam a divergência. Não a suportam nem neste blog: tentam aparelhá-lo a todo custo, recorrem a sabotagens e expedientes criminosos, tentam silenciá-lo. E SÃO TOMADOS DE UMA FÚRIA INAUDITA SE NOTAM QUE VOCÊ NÃO É AQUELE INFELIZ COM O QUAL ELES FANTASIAVAM. Pois é, não sou.

Eu sei a razão da fúria, sim. E ela deriva do fato de que as palavras que disse sobre a presença de Ahmadinejad no Brasil são irrespondíveis. Estão com ódio de mim porque sabem que estão forçados a defender, então, um “líder” que nega o Holocausto, que promete destruir um país, que trata as divergências a bala, que alimenta o terrorismo. Uma defesa certamente incômoda, não é?

Podem reclamar. Como é mesmo? PETRALHAS, TIREM SUA TRISTEZA DO CAMINHO, QUE EU QUERO PASSAR COM O MEU HUMOR. E não vou mudar, pouco me importa quem vença as eleições, pouco me importa a popularidade de Lula, pouco me importa a sua síndrome de ineditismo, pouco me importa se nunca antes nestepaiz houve um presidente que dissesse tanto “nunca antes netepaiz”…

Brasil recebeu um criminoso, um terrorista, o chefe de um governo assassino. E foi o que eu disse na televisão. E debochei um pouco do que Lula tem de debochável… Aqui ainda não é o Irã, e eu não devo satisfações ao Conselho da Revolução Petralha.

Por Reinaldo Azevedo

Brasil, Honduras e a tese mentirosa

Honduras é um bom exemplo para desmoralizar a fantasia estúpida — que mente para os leitores — segundo a qual o Brasil opera a sua política externa em consonância, e passos combinados!, com os EUA.

Por quê? O Brasil apresentou a proposta de adiar por 15 dias a eleição naquele país, marcadas para o próximo dia 29. “Exige” a reinstalação de Manuel Zelaya. O Departamento de Estado dos EUA disse não e se irritou.

É claro que o Brasil não precisa seguir os passos de Washington; é livre para fazer o que quiser. O problema é que ele também não pode passar a fazer, agora, sempre o contrário do que querem os EUA — porque isso também seria uma forma de subordinação. A proposta, como vocês devem supor, é de Celso Amorim - e, pois, de Luiz Inácio Lula da Silva.

É incrível como o Brasil, nesse seu protagonismo destrambelhado, que pretende exibir independência, não dá a menor bola para a realidade objetiva de um outro país e se mete em seus assuntos internos com uma desfaçatez impressionante. Imaginem a crise que implicara um adiamento do pleito…

E por que a insistência? Porque Amorim fez mais uma bobagem e agora pretende forçar a história a cumprir as suas profecias, entenderam? Os hondurenhos que se danem! Ele não está nem aí. O Brasil sobrou com o chapeludo na mão e não sabe o que fazer.

Não basta querer ser líder; é preciso poder ser líder. Não basta poder ser líder; é preciso SABER ser líder. Essa gente não sabe. A política externa brasileira, hoje, limita-se a medir forças com os EUA no continente — e a ambição é fazê-lo em âmbito mundial, como deixa clara a visita de Ahmadinejad…

É, vai ver somos o império do futuro, né? É por isso que o sol sempre está iluminando uma base militar brasileira onde quer que esteja nascendo… O mais constrangedor nem é essa posição estúpida do governo brasileiro, mas a falta de senso de ridículo. E, obviamente, seu amor por ditaduras, ditadores e bandoleiros.

NOTA - Roberto Micheletti cumpriu todas as partes do acordo feito com a turma de Zelaya. E este acordo não previa data para o Congresso votar a restituição — tampouco previa que os parlamentares eram obrigados a dizer “sim”. Mas o Brasil agora deu para considerar que textos de acordo e constituições não valem mais nada.

Por Reinaldo Azevedo

domingo, 22 de novembro de 2009

Quem é o Filho do Brasil?

“O chefe da propaganda de Benito Mussolini era seu genro, Galeazzo Ciano. Lula, por sua vez,tem de se arranjar com Franklin Martins”

Luiz Carlos Barreto, o Filho do Brasil.” Ele, Luiz Carlos Barreto, é um personagem um tantinho menos oco do que aquele outro, canonizado em sua última obra, Lula, o Filho do Brasil. Quem é Lula? Eu o resumiria numa única linha: um retirante maroto que sonha em se transformar em José Sarney. Ele é Vidas Secas sem Graciliano Ramos. Ele é Antônio Conselheiro sem Euclides da Cunha. Ele é, citando outra patetice sertaneja produzida por Luiz Carlos Barreto, quarenta anos atrás – os filhos do Brasil repetem-se tediosamente de quarenta em quarenta anos –, o cangaceiro Coirana, sem Antônio das Mortes.

Quem já assistiu a um cinejornal do “Istituto Luce” sabe perfeitamente o que esperar de Lula, o Filho do Brasil. Benito Mussolini, em Roma, conclamando as massas, é igual a Lula, no ABC, imitando Bussunda. O chefe da propaganda de Benito Mussolini era seu genro, Galeazzo Ciano. Lula, por sua vez, tem de se arranjar com Franklin Martins, coordenador do MinCulPop lulista. Mas o fato é que, a cada dia mais, o “filho de Dona Lindu” macaqueia o “filho do ferreiro de Predappio” – só que num cenário mais indigente e embolorado.

Se o crack de 1929 consolidou aquilo que Benito Mussolini chamou de “estado empreendedor”, o crack de 2008 fez o mesmo com Lula. A economia fascista tinha IMI e IRI, bancos públicos que forneciam crédito à indústria italiana, privilegiando os aliados do regime. A economia lulista tem Banco do Brasil e BNDES, que desempenham um papel semelhante. Benito Mussolini era celebrado na propaganda oficial por ter “restringido as desigualdades sociais”. Lula? Também. Os triunfos italianos nas Copas do Mundo de 1934 e 1938 foram creditados ao Duce, que compareceu aos jogos finais, assim como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 foram creditadas a Lula. Recentemente, Lula arrumou até seu próprio ditador antissemita, que promete repetir o holocausto: o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, recebido com pompa na capital do lulismo. Os “anos do consenso” de Benito Mussolini duraram de 1929 a 1936. Quanto podem durar os de Lula?

Luiz Carlos Barreto, em 1966, produziu um curta-metragem de propaganda para José Sarney. O curta-metragem foi dirigido por um conhecido marqueteiro: Glauber Rocha. Desde aquele tempo, Luiz Carlos Barreto, “o Filho do Brasil”, é quem melhor sintetiza o caráter nacional. Durante a ditadura militar, ele tomou conta da Embrafilme. No período de Fernando Henrique Cardoso, ele fez propaganda para a Embratur e para o BNDES. Quando o lulismo foi desmascarado, em 2006, ele disse: “O mensalão não era mensalão. Era uma anuidade. Faz parte da ética política. E a ética política é elástica”. A ética cinematográfica é igualmente elástica. E, no caso de Luiz Carlos Barreto, é uma anuidade.

Luiz Carlos Barreto, homenageado no Senado por Roseana Sarney, que o chamou de “grandalhão dócil e amável do cinema brasileiro”, agora planeja filmar o romance Saraminda, de José Sarney. É dessa maneira que Lula passará para a história: como uma mera anuidade no intervalo entre o José Sarney de 1966 e o José Sarney de 2010.

Por Diogo Mainardi

A construção de um mito


O filme Lula, o Filho do Brasil faz parte de um projeto de endeusamento
do presidente, o que, às vésperas de uma eleição, entra na categoria
de propaganda política. Lula tem uma bela história de vida, foi um líder
sindical de resultados e é um presidente da República eficiente e amado,
mas ele só tem a perder se se deixar transformar em mito vivo


Diego Escosteguy e Otávio Cabral

Clovis Cranchi/F4
NA VIDA REAL
Lula foi um líder sindical carismático e pragmático que se encaixou à perfeição no projeto de distensão política do regime militar por ser da esquerda não marxista, não alinhada com o movimento comunista internacional e, por isso, tolerada
Almeida Rocha/Folha Imagem
NA FICÇÃO
O sindicalista Lula vira na tela um Gandhi magnânimo, infalível e incorruptível cuja bondade e sabedoria se combinam com uma visão de futuro privativa dos profetas


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Luiz Inácio Lula da Silva, o mais improvável dos presidentes brasileiros, já entrou na história antes de sair da vida. Lula, o filho do sertão pernambucano que comia feijão com farinha sob o árido sol de Garanhuns antes de se tornar engraxate nas ruas do Sul Maravilha, venceu. Dos sapatos chegou à fábrica de parafusos; do torno saltou para a avenida larga, longa e generosa da vida sindical, que o conduziu ao Partido dos Trabalhadores e à Presidência da República. Instalado no poder, Lula amargou escândalos, viu a dissolução ética de seu partido, observou de mãos atadas uma recessão econômica de quase dois anos que por pouco não paralisou seu governo. Mas, como não há males que durem, os escândalos foram varridos para debaixo do tapete e a recessão inicial cedeu, abrindo caminho para o crescimento econômico e a consequente onda de boa vontade com os governantes que ele traz. Com sua genuína devoção aos mais pobres e um carisma fenomenal, Lula chega às portas do seu último ano de governo com 80% de aprovação. A vida de Lula, como se vê, parece coisa de filme.

Lula, o Filho do Brasil, a cinebiografia que estreará nos cinemas no começo do próximo ano, é o primeiro filme de ficção sobre a vida do presidente. A LC Barreto, responsável pelo projeto, enviará 500 cópias ao circuito comercial – o maior lançamento da história do cinema brasileiro. As centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, planejam projetar a fita para espectadores das áreas mais pobres do país. Os trabalhadores sindicalizados poderão comprar ingressos subsidiados a 5 reais. As estimativas mais conservadoras indicam que, somente nas salas comerciais, 5 milhões de pessoas assistirão ao longa. É pouco diante do que se seguirá. O DVD do filme será lançado no dia 1º de maio, feriado do trabalhador. Em seguida, a Rede Globo levará a fita ao ar, editada como uma minissérie. Ao final, se essa ambiciosa estratégia de distribuição funcionar, Luiz Inácio, o homem que fez história, dará um salto rumo a Luiz Inácio, o mito. Esse mito paira acima do bem e do mal, mas estará dizendo o que é certo e o que é errado na campanha eleitoral de 2010. Por fazer parte de um projeto de beatificação do personagem com vista a servir de propaganda eleitoral disfarçada de entretenimento na próxima campanha, Lula, o Filho do Brasil parece coisa de marqueteiro.

Antes mesmo de ser lançado em rede comercial, o filme está agitando os bastidores da política. Assessores envolvidos na campanha presidencial de Dilma Rousseff, a candidata escolhida pelo governo para suceder Lula, veem na película um poderoso instrumento eleitoral, capaz de fazer diferença na luta petista para se manter no poder. O otimismo não é gratuito. Os estrategistas do Planalto receberam pesquisas que demonstram a capacidade de transferência de votos do presidente Lula. Ou seja, se Lula mantiver a popularidade em alta, Dilma será largamente beneficiada. A população faz uma ótima avaliação de Lula e se dispõe a votar em um candidato que mantenha os principais programas do petista. Lula é o maior cabo eleitoral do país. Quase 20% dos eleitores votam em seu candidato, independentemente de quem seja (veja o quadro). A grande dificuldade de Lula é que boa parte do eleitorado não conhece Dilma nem a associa ao presidente. Por isso ela segue a léguas de distância de José Serra, do PSDB, o líder das pesquisas. Para reverter esse quadro, Lula conta com o crescimento da economia, que pode atingir até 5% do PIB em 2010, e a consequente perspectiva de que os eleitores sigam sua orientação e votem em quem ele indicar. O filme é visto como um fator estimulante nesse processo de transferência.

Celso Junior/AE
AVANT-PREMIÈRE
A primeira-dama Marisa Letícia e as atrizes do filme: o lançamento em Brasília foi disputado, mas os aplausos do público foram apenas discretos


Na terça-feira da semana passada, VEJA esteve na primeira exibição pública do filme, que abriu o tradicional Festival de Cinema de Brasília. Numa demonstração da comoção que o longa deve causar, teve gente, de político a porteiro, que implorava por convite na frente do Teatro Nacional, onde aconteceu a projeção. Havia cerca de 1 400 pessoas no teatro, entre ministros, deputados, senadores, sindicalistas, burocratas do governo e jornalistas. Marisa Letícia, a primeira-dama, compareceu ao evento e foi assediada como celebridade. Havia gente em cadeiras improvisadas, gente nas escadas, gente no chão. Lula, o Filho do Brasil é uma novela com duas horas de duração. Em matéria de lágrimas, funciona. Em matéria de apuro estético, constrange. Como obra de arte, portanto, é uma irretocável peça de propaganda. Não poderia ser diferente: é um projeto concebido exatamente com esse propósito. Dirigido por Fábio Barreto, o filme inspira-se na biografia homônima – e oficial – do presidente, escrita pela jornalista Denise Paraná e editada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

Se como cinema o filme é fraco, como propaganda e negócio tem tudo para dar certo. O apelo emocional da obra pode agradar ao público que chorou com 2 Filhos de Francisco, a história de superação dos irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Há elementos em abundância para provocar chororô – nisso se percebe a maestria de Fábio Barreto, que apresenta ao espectador um Lula plano, sem meios-tons, cujas carnes se tornam reais apenas no sofrimento da perda da mulher grávida, ou no êxtase ao comandar as massas nos comícios sindicais. Qualquer sentimento que pudesse torná-lo mais humano, como a raiva pelo abandono do pai ou a inveja de quem tinha o que ele desejava, perde-se na produção artificial do mito, do messias que sofre, persevera e está destinado a conduzir o povo até a terra prometida (veja o quadro). O Lula de Fábio Barreto não é somente um herói sem defeitos; é um herói iluminado. Barreto faz de tudo para mostrá-lo assim, inclusive omitindo ou atenuando a verdadeira história do presidente (veja o quadro). O Lula de Barreto usa inverossímeis frases de efeito ("Homem não bate em mulher!") para impedir que o pai bata na mãe ou para desafiar a polícia autoritária do regime militar ("Cadeia foi feita para homem") – embora na vida real algumas dessas passagens jamais tenham ocorrido.

Fotos Celso Junior/ AE; Dida Sampaio/ AE
EFEITOS ESPECIAIS
O ministro Franklin Martins acredita que a mitificação precoce de Lula pode ajudar a campanha de Dilma Rousseff


"Queria fazer um melodrama", admite o diretor. O recorte temporal do filme é a primeira prova disso. O roteiro percorre a infância miserável de Lula em Garanhuns, acompanha a trajetória dolorosa do menino que é obrigado a trabalhar para comer e avança até o mergulho dele no mundo sindical. Mas para por aí. Tudo o que aconteceu na vida do presidente entre o começo dos anos 80 e a vitória em 2002 ficou de fora: a criação do PT, a atuação como deputado na Constituinte de 1988, as cinco campanhas presidenciais. Qualquer episódio que pudesse causar constrangimento ou contrariar a narrativa hagiográfica da vida de Lula sumiu da história. Barreto suaviza algumas características notórias do presidente e omite algumas passagens pouco edificadoras. Essas opções dramáticas servem para construir o mito, que sempre precisa de um passado idealizado, idílico, no qual o futuro se desenhe glorioso, rumo ao paraíso terreno – uma mentalidade que prosperou com força na ideia do "país do futuro", no decorrer do regime militar. O clímax triunfalista do filme, quando Lula se ergue sobre as massas, reforça precisamente esse projeto autoritário.

Os bastidores do projeto revelam que essas opções não foram meramente artísticas. Houve estreita colaboração entre os produtores do filme e a equipe de Lula. Em 2003, logo após adquirir os direitos da biografia oficial do presidente, Luiz Carlos Barreto obteve o aval do presidente para tocar o longa. Políticos próximos a Lula afirmam, sob a condição de anonimato, que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, teve influência decisiva na definição do esquema de captação de recursos. Antes da edição final, Barreto viajou para Brasília pelo menos duas vezes para exibir o filme a políticos próximos ao Planalto. A primeira sessão aconteceu há três meses. Participaram ministros, como Paulo Bernardo, do Planejamento, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e deputados, como João Paulo Cunha e Ricardo Berzoini, da cúpula do PT. Os petistas, depois da exibição, acharam as músicas incidentais muito pouco dramáticas e sugeriram acrescentar músicas populares, que seriam mais facilmente assimiláveis – no que foram prontamente atendidos.