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segunda-feira, 31 de maio de 2010

O presidente que não lê nada agora virou professor de tudo

Com uma frase na última edição de VEJA, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo decretou o fim do palavrório sobre os motivos do naufrágio do acordo esboçado em Teerã pelo Brasil e pela Turquia: “Ao concordar em ter o urânio enriquecido em outro país, e em seguida acrescentar que nem por isso deixaria de fazê-lo ele próprio, o Irã entrou nos anais com um caso raro, talvez inédito, de comprometimento simultâneo com uma coisa e o seu contrário”. Perfeito. Antes mesmo da divulgação do rascunho do que fora combinado, os aitolás atômicos trataram de implodi-lo com mais uma insolência.

Para quem vê as coisas como as coisas são, o Irã escalou o Brasil para o papel de otário em outra farsa forjada para que a produção da bomba nuclear siga seu curso. Para Lula, onde se enxerga um fiasco de bom tamanho deve-se contemplar um irretocável sucesso diplomático. O final feliz, tem reiterado de meia em meia hora, só não pôde ser celebrado ainda por culpa dos americanos. Sempre eles.

“A divergência do Irã com os Estados Unidos perdura 31 anos”, voltou a dedilhar a lira do delírio, nesta segunda-feira, o candidato a governador-geral do planeta. “Qual foi o mal que o Brasil e a Turquia fizeram? Foi convencer o presidente do Irã a sentar numa mesa para negociar, que era o que eles queriam que acontecesse. Aí quando o Irã topa sentar, eles falam: não vale mais”. Quer dizer: o companheiro Mahmoud Ahmadinejad é um soldado da paz que enfrenta com estoicismo de estadista a incurável belicosidade ianque.

A missão em Teerã foi a segunda proeza do ano, lembrou Lula na semana passada: em março, consumou-se a missão no Oriente Médio. “A imprensa dizia: o Lula, que veio lá de Garanhuns? O cara não fala nem inglês e quer falar com árabe? Com persa? Não vai dar certo. E nós estávamos convencidos de que era possível”. O verbo conjugado no passado informa que o que parecia impossível aconteceu. Judeus e palestinos já aprenderam o que devem fazer para se tornarem amigos de infância. No caso do Irã, só falta Barack Obama deixar de ser brigão.

“Ninguém conseguia fazer o Irã sentar na mesa para negociar”, tornou a gabar-se o maior governante desde a chegada das caravelas. “E nós conseguimos, porque essas decisões às vezes são tomadas em função de uma relação de confiança”. Se acredita mesmo que pacificou o Oriente Médio, fez o Irã renunciar à fabricação da bomba e solucionou em dois meses duas crises aparentemente insolúveis, Lula é portador de uma perigosa mistura de megalomania e mitomania. Se sabe que fracassou, e está só contando mais mentiras, passou a acreditar que é o único esperto entre os homens que governam um viveiro de bilhões de idiotas.

Nas duas hipóteses, Lula seria, mais que um case político, um caso clínico. Em qualquer nação ajuizada, estaria ameaçado de trocar a faixa presidencial por uma camisa-de-força. Mas países com juízo não se arriscam a transformar em chefe de governo alguém que, sem ter estudado nada, vira professor de tudo. Não entregam a presidência a quem resolve sair pelo mundo dando aulas a povos sobre os quais não leu um único livro, um só parágrafo, sequer uma linha.

Gente civilizada sabe que é dramaticamente imprecisa a fronteira que separa um gabola incontrolável de um napoleão-de-hospício.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

DROGAS, ELEIÇÃO, IMPRENSA E, CLARO!, TIO REI, O “REACIONÁRIO”

- “Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro”;
- “Faça uma piteira de papel se for rolar um baseado”;
- “Compartilhe a droga, nunca o material a ser usado”…

Essas frases - empregando, inclusive, a linguagem do drogado, numa espécie de Método Paulo Freire para Cheirar e Fumar - estavam numa cartilha distribuída pelo Ministério da Saúde na Parada Gay de 2007. Trazia aquele emblema hipercolorido do governo Lula: “Brasil, Um País de Todos”. O que escrevi a respeito? Segue um trecho:
“Se o Ministério Público tiver um pouco de brios, processa os responsáveis por essa cartilha - aliás, de quebra, poderia verificar se há dinheiro público, de qualquer esfera (União, estado e cidade), e, sendo o caso, acionar também esses entes. É um acinte. Um achincalhe. Uma vigarice. Redução de danos coisa nenhuma! Isso é apologia da droga, feita de forma descarada. Apologia e estímulo ao consumo. Com que então alguém precisa ser instruído? Não precisa.”

Como dar pico na veia? O Ministério da Saúde ensina
No dia 18 de junho de 2007, denunciei que uma página de Ministério da Saúde que informava qual era o melhor lugar para tomar pico!!! O post está aqui. Tão logo meu texto foi ao ar, o do governo desapareceu da rede. Era a época em que o ministro José Gomes Temporão - o meu “preferido” depois de Celso Amorim - considerava o “Zeca-Feira” (lembram-se?) uma coisa muito perigosa. Mas o seu ministério anunciava:

PONTOS PARA INJETAR
Pontos seguros
- veias dos braços e dos antebraços
- veias das pernas
Pontos a considerar
- pés (veias pequenas, muito frágeis, injeção dolorosa)
Pontos perigosos
- pescoço
- rosto
- abdômen
- peito
- coxas
- sexo
- pulsos

Entenderam? O Ministério da Saúde considerava “seguro” injetar cocaína nas “veias dos braços, dos antebraços e das pernas”!!!

Cachimbo de crack, redução de danos e vigarices afins
Já lhes contei aqui que ONGs, em São Paulo, distribuem “cachimbos de crack” e kits para drogas injetáveis. É a chamada “política de redução de danos”, uma jabuticaba que, como política ampla de combate às drogas, só funciona - ou melhor: não funciona!!! - no Brasil. Admitindo-se que tal “método” possa levar um consumidor severo de droga a ser um consumidor moderado, é evidente que se trata de uma experiência restrita a grupos rigidamente controlados. Critiquei aqui também um estudo, feito com dinheiro oficial, que edulcorava o ecstasy. E, todos vocês sabem, oponho-me radicalmente à descriminação da maconha.

Apanhei muito. E agora?
Apanhei muito, como cão sarnento, todas as vezes em que tratei do assunto. O lobby em favor da descriminação das drogas, especialmente da maconha, é grande. Pessoas as mais capazes podem se equivocar enormemente a respeito, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No caso do ecstasy, houve, para não variar, até abaixo-assinado de quase intelectuais!!!

Pois é… Agora o crack está aí. Não! Não é agora! Há anos o crack está aí. Agora, ele é um flagelo. Se o ecstasy é a droga dos “modernos”; se a coca é a dos endinheirados; se a maconha é a dos “cabeças”, o crack é a dos miseráveis e dos que, atenção!, se tornam miseráveis por causa dela.

Em algum grau, todas as drogas são degradantes. Mas o crack devasta a vida dos consumidores com uma rapidez espantosa. Conduz o viciado à abjeção. O índice de grávidas nesse grupo deve ser muito superior ao de qualquer outro que se estude porque desaparecem os limites. A maioria das mulheres que está nas ruas admite que se prostitui para conseguir a pedra. Estima-se, mas é chute, em 500 mil os viciados, a esmagadora maioria vagando pelas ruas com zumbis porque os laços com a família foram rompidos.

E agora?
O que fazer daquele misto de desídia e leniência com que o caso foi tratado até agora? Há coisa de três anos, pressionado a agir, o governo federal respondeu que se tratava de um problema restrito à cidade de São Paulo. Não! Já chegou a… tribos indígenas!!!

Desapareceram da imprensa os prosélitos da descriminação das drogas. Cadê o padre de passeata para discursar como monopolista dos, como é mesmo?, “moradores em situação de rua”? Sumiram todos. E o governo Lula, que se comportou com a responsabilidade com que se vê acima, lança um “plano de combate ao crack”, casado com a agenda de sua candidata, como se a política oficial não tivesse sido caracterizada, até agora, pela leniência e, às vezes, querendo ou não, pelo incentivo ao consumo.

Nem governo nem oposição pegaram essa bandeira porque, estranhamente, no Brasil, defender o combate severo, sem concessões, ao tráfico E AO CONSUMO de drogas é considerado uma coisa “de direita”. E, como sabemos, por aqui, todos são insuportavelmente progressistas.

Nessa área, o resultado de tanto “progressismo” são 500 mil vidas destruídas. E milhares de outras a elas se seguirão. E só para lembrar ainda uma vez: a questão tem um alcance que vai além do trabalho de repressão da polícia. A maior parte da cocaína que hoje entra para consumo no Brasil é destinada ao crack.

Entre 80% e 90% da coca vendida por aqui vem da Bolívia, do “companheiro” Evo Morales. Sob a sua gestão, cresceram a produção da droga e a área plantada de folha de coca — inclusive em novos campos de cultivo que ele estimulou na fronteira com o Brasil. A política de Evo facilita a entrada da droga no Brasil, mas o governo Lula reage à altura, né? Deu-lhe a Petrobrás de presente e financiamento do BNDES…

A questão é, de fato, política. Mas parece que ninguém mais quer, se me permitem o gracejo, politizar a política.

por:

Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

LISTA DE BESTEIRAS E DERROTAS DE CELSO AMORIM

O maestro do vexame de agora é Celso Amorim, Abaixo, atualizo a lista de seus desastres. Certamente falta coisa, mas vamos lá:

NOME PARA A OMC
Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!! Culpa do Itamaraty, não de Seixas Corrêa.

OMC DE NOVO
O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não de Gracie.

NOME PARA O BID
Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil — do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do Itamaraty, não de Sayad.

ONU
O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.

CHINA
O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada, em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócos há uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…

DITADURAS ÁRABES
Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio.

CÚPULA DE ANÕES
Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância… No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…

ISRAEL E SUDÃO
A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur — mais de 300 mil mortos! Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?

FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito.

RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

UNESCO
Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio anti-semita e potencial queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com o apoio tranqüilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.

HONDURAS
O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e democráticas. Lula não reconhece o governo.

AMÉRICA DO SUL
Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata como uma democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o Parlamento… paraguaio! A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade. E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o Equador já chegou a seqüestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos. Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana. Chamam a isso “pragmatismo”.

CUBA, PRESOS E BANDIDOS
Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos comuns do Brasil.

IRÃ, PROTESTOS E FUTEBOL
Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia demonstrado suas simpatias por Ahmadinjead e comparado os protestos das oposições contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo time perde um jogo.


por:

Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Chamberlain de Macaé


“Um novo presidente será eleito daqui a cinco meses. Só ele poderá decidir sobre assuntos estratégicos. Em vez de atuar como um quinta-colunista da bomba nuclear iraniana, Lula deveria pensar apenas em esvaziar as gavetas de seu gabinete”

Lula foi ao baile funk de Mahmoud Ahmadinejad assim como Vagner Love foi à Rocinha. Vagner Love confraternizou com os assassinos do Comando Vermelho? Lula está confraternizando com os assassinos da Guarda Revolucionária iraniana. Vagner Love faz trabalho humanitário no morro? Lula, segundo Dilma Rousseff, faz trabalho humanitário no Golfo Pérsico. Vagner Love foi festejar os dois gols que marcou contra o Macaé? Lula está festejando os dois gols que marcou contra o Brasil.

O Brasil é uma espécie de Macaé do mundo. Isso é uma sorte. Se o Brasil fosse a Inglaterra, Lula já estaria consagrado como o nosso Chamberlain. Sempre que alguém quer guerrear, surge algum pateta tentando ser intermediário da paz. Em 1938, o primeiro-ministro da Inglaterra, Chamberlain, viajou para a Alemanha para negociar olho no olho com Hitler. Depois de alguns encontros, eles assinaram um tratado de paz, pelo qual Hitler se comprometia a ocupar apenas uma parte do território da Checoslováquia. Chamberlain voltou à Inglaterra comemorando a paz. Seis meses mais tarde, Hitler atropelou Chamberlain e ocupou o resto da Checoslováquia. Em seguida, ocupou a Europa inteira.

Se Lula é o Chamberlain de Macaé, Mahmoud Ahmadinejad só pode ser o Hitler de Macaé. Como Hitler, ele mata seus opositores. Como Hitler, ele persegue as minorias. Como Hitler, ele tem um plano para eliminar todos os judeus. Só lhe falta o poder de fogo, porque um Macaé, felizmente, é sempre um Macaé. O papel de Lula é esse: dar-lhe algum tempo para que ele possa obter uma arma nuclear. Na semana passada, um articulista do Washington Post chamou Lula de “idiota útil” de Mahmoud Ahmadinejad. O articulista está certo. Mas há outros “idiotas úteis”, além de Lula. O G15, reunido neste domingo no baile funk iraniano, conta também com a Venezuela, de Hugo Chávez, com o Zimbábue, de Robert Mugabe, e com a Indonésia, de Susilo Bambang Yudhoyono, eleito pela Time, em 2009, uma das 100 personalidades mais influentes do mundo. Time é uma espécie de VEJA de Macaé.

O apoio ao programa nuclear iraniano é o maior erro que o Brasil já cometeu na área internacional. Só a vaidade de Lula ganha com isso. Ao desafiar os Estados Unidos e a Europa, tornando-se cúmplice de Mahmoud Ahmadinejad, ele pode sentir-se um tantinho maior do que realmente é. Trata-se da síndrome de Macaé. Mas alguém tem de dizer a Lula que seu tempo já se esgotou. Ele representa o passado. A esta altura, sua autoridade é meramente protocolar. Um novo presidente será eleito daqui a cinco meses. Só ele poderá decidir sobre assuntos estratégicos. Em vez de atuar como um quinta-colunista da bomba nuclear iraniana, Lula deveria pensar apenas em esvaziar as gavetas de seu gabinete. Acabou, Lula. Chega. Fim. Xô.

Por Diogo Mainardi

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Brasil pode estar construindo bomba atômica

Reator nuclear da usina de Angra 2

Às vésperas da visita do presidente Lula ao Irã, pesquisador alemão Hans Rühle divulga suspeita de que o Brasil teria programa nuclear "paralelo".

Entre brasileiros comuns, que andam pelas ruas e assistem à televisão, a ideia de construção de uma bomba atômica soa improvável. Mas não para um pesquisador que acompanha o desenrolar político brasileiro de fora do país.

No início do mês, um artigo do alemão Hans Rühle aguçou o debate sobre a proliferação de armas atômicas. Num longo texto em que revisita episódios da história da ditadura militar e reproduz depoimentos de autoridades brasileiras importantes – como o presidente Lula –, Rühle diz que o Brasil pode estar, sim, desenvolvendo uma bomba atômica às escondidas.

A opinião publicada na revista alemã Internationale Politik, do Conselho Alemão de Relações Internacionais, repercutiu na Europa.

A Deutsche Welle conversou com o pesquisador, ex-diretor do departamento de planejamento do Ministério alemão da Defesa e especialista em questões de armamento.

Hans Rühle, especialista em segurançaBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Hans Rühle, especialista em segurançaDeutsche Welle: Em quais fatos o senhor se baseou para escrever o artigo?

Hans Rühle: Primeiro, é preciso lembrar que o Brasil teve três diferentes programas nucleares entre 1975 e 1990. Eles acabaram, mas não está claro o que aconteceu com eles. E constato que, desde 2003, há desenvolvimentos difíceis de interpretar.

Por um lado, o Brasil é membro do Tratado de Não-Proliferação. Por outro, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica se deparam com grandes obstáculos quando querem inspecionar o território. O país também se recusa a permitir controles de centrais nucleares não declaradas oficialmente.

E também é preciso dizer que o Brasil tem um programa de submarino nuclear que também está vedado aos inspetores. Sabemos que o grau de enriquecimento de urânio desse tipo de programa permite a construção de armas atômicas.

Mas o Brasil é um signatário do Tratado de Não-Proliferação...

Este é o problema: o Brasil não assinou o protocolo adicional do acordo, que amplia os poderes de controle da agência. Acho que só 4 ou 5 países não assinaram o acordo, entre os quais o Brasil. (nota do editor: o acerto adicional foi assinado por 98 países).

Esse protocolo autoriza o livre acesso a todos os locais de atividade nuclear, a qualquer hora, sempre que houver uma suspeita, de modo que os inspetores possam investigar todas as instalações. Os brasileiros não assinaram esse protocolo, o que significa que as autoridades de Viena só podem visitar as instalações declaradas.

Mas o presidente Lula já disse várias vezes que o Brasil não assinará essa parte do tratado.

Estamos falando de um país democrático, com uma Constituição que proíbe o uso de armas nucleares.

Essa proibição está numa Constituição de 1988, formulada por um governo anterior à presidência de Lula. E ele já deixou claro que não concorda com as decisões então tomadas, nem com a assinatura do Tratado de Não-Proliferação, nem com a proibição constitucional de armas atômicas.

Além disso, a Constituição não permite a construção de armas atômicas, mas autoriza as chamadas "explosões nucleares pacíficas", que, no fundo, não são muito diferentes de explosivos nucleares. São diferentes só no nome.

O melhor exemplo disso é a Índia, que nesse caso serve de modelo para o caso brasileiro. Em 1974, a Índia realizou uma dessas explosões e a declarou como pacífica. Hoje sabemos dos próprios indianos do que se tratava de fato. O responsável pela operação afirmou, 23 anos depois: "Claro que foi uma bomba, e de forma alguma pacífica".

Além do mais, a Constituição brasileira permite ser contornada.

Mas você disse em seu artigo que não há provas concretas de que o Brasil esteja construindo uma bomba. Quão grande é o risco de que isso seja verdade?

Essa questão de evidências sempre é difícil. Podemos fazer uma comparação entre Brasil e o Irã. Sabemos mais sobre o Brasil do que sobre o Irã. Citei o vice-presidente argentino, que há um ano disse que o país precisa de armas nucleares. No Irã, isso jamais foi dito por líder algum. Ou seja, no caso brasileiro, estamos significativamente à frente.

Temos um conhecimento relativamente reduzido sobre as instalações brasileiras. Mas sabemos que o Brasil tem possibilidades infinitamente maiores no que diz respeito ao processo nuclear. O país já faz isso há 30 anos e domina todas as etapas do processo.

Não foi à toa que citei os institutos americanos de Los Alamos e Livemore, segundo os quais o Brasil, se quiser, pode construir armas nucleares em três anos.

Não posso dizer, no caso brasileiro, quando isso vai acontecer, pois não sei quando o programa começou. Aliás, provavelmente ninguém sabe, a não ser os brasileiros.

Entrevista: Christina Krippahl (np)

Revisão: Simone Lopes


fonte:

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5564374,00.html